segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

CHOVE NO MEU CEARÁ

Fortaleza, X de janeiro de MMXI, minha Fortaleza amada, do meu Ceará agreste, pelo sol calcinada, amanheceu por um lençol cor de chumbo, roto, coberta, gotejada, enxovalhada. A zoada das telhas inchando, ficando avermelhadas tal e qual têtas de virgem quando tateadas. Pingos grossos correndo um atrás do outro pelas valas do telhado, escorregando pelas biqueiras, caindo em salto livre, se despedaçando num estalar sonoro ao redor da casa. Limoeiro, cajueiros, gravioleiras, ateiras, pés de acerolas carregados de passarim. Bem-te-vis, sanhaços, rouxinóis, galos-de-campina, sibites, estrala-bicos, corrupiões, rolinhas fogo-apagou, caldo-de-feijão, pardais, trinando, arrulhando, uma sinfonia; saltitando, vôos rasantes, pega-pegas no chão ciscado, já ensopado do quintal, parecendo crianças ou é o contrário? Lesmas se arrastam na baba; embuás escovam o chão; minhocas tateando terra frouxa, cagando pra cima; largatixas em saltos acrobáticos agarrando cupins, formigas alados. O caboclo sob lençóis, encorujado, entre gemidos da cabocla dengosa, plantando seu sêmen na cova - ao balanço da tipóia cheirando a sabão de coco - no escuro cortado pelo clarão dos relâmpagos, da alcova. Ah, como amo, sob sol, sob chuva, minha Fortaleza, meu Ceará, meu Nordeste.

Um comentário:

  1. Também amo as chuvas e a folia que a natureza faz com elas. Deitar, esticar-se e ouvi-la, então... é ótimo! Porém, ultimamente as chuvas andam enfurecidas, destrutivas, desmedidas, avolumaram-se! São Paulo, Mimas, Rio têm sido castigados pelas águas...Então, zé, já as vejo com certo temor.__BeijoKas, Kathleen

    ResponderExcluir