segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CULTIVANDO O ÓCIO


Tenho andado preguiçoso nos últimos tempos sim, para escrever. Segurar o lápis, fazer cócegas no papel. É uma preguiça brava. Mas, em compensação, nestes mesmos últimos tempos apossou-se de mim uma fome canina de leitura. Devorei neste último terço de ano que se foi, uns oito livros. Frutos da ociosidade. Como é bom o ócio. Enquanto se trabalha, não se pensa, não vemos a vida, não usufruímos deste prazer natural que é sentir-se humano, parte da terra. Desde que Deus condenou o homem à tortura (trabalho é tortura, sim senhor) por ter abusado do axioma “crescei e multiplicai-vos”, o ócio virou jóia rara, cobiçada por todos.

Abusando deste privilégio (ócio) folheei e deliciei-me (cito apenas quatro, sem desmerecer os outros) com O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago; Alegres Memórias de um Cadáver, do catarinense Roberto Gomes; Tigipió, de Herman Lima, nascido em Fortaleza, a minha amada, do meu Ceará agreste; e A Pele de Onagro, de Honoré de Balzac, escritor francês, fino em observações psicológicas. Em Saramago, vemos Jesus Cristo como homem amante de Madalena, atormentado pela omissão do seu pai (José) ao infanticídio praticado por Herodes. Em Roberto Gomes, leitura solta, intestino aberto de universidade, um morto querendo ser morto. Em Herman Lima, uma dissertação riquíssima, deslumbrante, do nosso sertão. “Há, nas matas do meu sertão, uma frutinha redonda, cor de ouro, a que chamam tigipió. Dourada, assim, a polpa translúcida, como um bago de uvas, o cheiro e o gosto de mel, é uma tentação, para as bocas sequiosas, que passam.” Em Honoré de Balzac, nos entusiasma filosofando sobre tempo, vida e morte.

Recomendo-os. No mais, aqui na terrinha, sinais de chuva, o calor está demais. Assim, como no Brasil, o otimismo (ou a cautela?) está dilmais.

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