sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O MESMO DO MESMO


Estou acordado. Nada de novo. O sol continua lá, majestoso. Pelo menos sob o sol, nada de novo. Amigos meus, pela ocasião (véspera de ano), andam me perguntando:

- Espera alguma coisa?

- Eu? Nada, respondo com voz sumida.

Eles me provocam. É, mas você aqui e acolá, fala em esperança. Lá, isso é verdade. Falo, sim. Assim como falo “meu Deus”, “Díos mio”, “my God”. Por osmose, por osmose. Vocabulariar estes pensamentos não significa necessariamente acreditar no seu conteúdo, em sua essência. Meros clichês. É como dizer “porra” para tudo aquilo que nos contraria e, excepcionalissimamente quando algo nos surpreende. Isto é, quando. Em verdade, sou cético. Em verdade, em análise sumária, “ano novo-ano velho”, é frase surrada, marketing ideológico, na política, na religião, na economia.

Imagino a velha Terra de guerra - neste estertorante rito de passagem – sob este formigueiro humano andando pra lá e pra cá sobre seu lombo, sem destino, repetindo as mesmas coisas a cada segundo. Deve ser uma zorra esse carrossel do Universo. Girando em torno do sol, carregando essa ruma de “que-vão-não-sei-pra-onde”...

Uns já nasceram ouvindo uma voz a dizer que são inadimplentes (dever é um saco). Sapecaram-lhes um “pecado original” nas costas e vivem aí a perambular tentando pagar o preço de uma aventura carnal (o gozo primeiro) jurássica e, nestas horas agonizantes de fim-de-e-véspera-do, ficam em cima do muro transcendental polindo a genitália:

- Satisfaço a alma ou a carne?

Vou passar a régua. Falei demais. Amanhã, se eu não acordar morto, alicerçarei alguma coisa por aqui, erigirei mais um vômito crônico.

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