quinta-feira, 1 de novembro de 2012
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
CHOVE NO MEU CEARÁ
Fortaleza, X de janeiro de MMXI, minha Fortaleza amada, do meu Ceará agreste, pelo sol calcinada, amanheceu por um lençol cor de chumbo, roto, coberta, gotejada, enxovalhada. A zoada das telhas inchando, ficando avermelhadas tal e qual têtas de virgem quando tateadas. Pingos grossos correndo um atrás do outro pelas valas do telhado, escorregando pelas biqueiras, caindo em salto livre, se despedaçando num estalar sonoro ao redor da casa. Limoeiro, cajueiros, gravioleiras, ateiras, pés de acerolas carregados de passarim. Bem-te-vis, sanhaços, rouxinóis, galos-de-campina, sibites, estrala-bicos, corrupiões, rolinhas fogo-apagou, caldo-de-feijão, pardais, trinando, arrulhando, uma sinfonia; saltitando, vôos rasantes, pega-pegas no chão ciscado, já ensopado do quintal, parecendo crianças ou é o contrário? Lesmas se arrastam na baba; embuás escovam o chão; minhocas tateando terra frouxa, cagando pra cima; largatixas em saltos acrobáticos agarrando cupins, formigas alados. O caboclo sob lençóis, encorujado, entre gemidos da cabocla dengosa, plantando seu sêmen na cova - ao balanço da tipóia cheirando a sabão de coco - no escuro cortado pelo clarão dos relâmpagos, da alcova. Ah, como amo, sob sol, sob chuva, minha Fortaleza, meu Ceará, meu Nordeste.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
CULTIVANDO O ÓCIO
Tenho andado preguiçoso nos últimos tempos sim, para escrever. Segurar o lápis, fazer cócegas no papel. É uma preguiça brava. Mas, em compensação, nestes mesmos últimos tempos apossou-se de mim uma fome canina de leitura. Devorei neste último terço de ano que se foi, uns oito livros. Frutos da ociosidade. Como é bom o ócio. Enquanto se trabalha, não se pensa, não vemos a vida, não usufruímos deste prazer natural que é sentir-se humano, parte da terra. Desde que Deus condenou o homem à tortura (trabalho é tortura, sim senhor) por ter abusado do axioma “crescei e multiplicai-vos”, o ócio virou jóia rara, cobiçada por todos.
Abusando deste privilégio (ócio) folheei e deliciei-me (cito apenas quatro, sem desmerecer os outros) com O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago; Alegres Memórias de um Cadáver, do catarinense Roberto Gomes; Tigipió, de Herman Lima, nascido em Fortaleza, a minha amada, do meu Ceará agreste; e A Pele de Onagro, de Honoré de Balzac, escritor francês, fino em observações psicológicas. Em Saramago, vemos Jesus Cristo como homem amante de Madalena, atormentado pela omissão do seu pai (José) ao infanticídio praticado por Herodes.
Recomendo-os. No mais, aqui na terrinha, sinais de chuva, o calor está demais. Assim, como no Brasil, o otimismo (ou a cautela?) está dilmais.