terça-feira, 9 de março de 2010

CRÔNICA

QUEM É DO MAR NÃO ENJOA

No princípio Deus criou os céus e a terra. Gênesis, capítulo 1, versículo 1.
Em criando a terra, seguindo a lógica, Deus criou os países e daí surgiu o nosso, o nosso idolatrado Brasil. E na sua feitura Deus caprichou: um belo oceano, grandes e imensos rios, imensas florestas, belíssimas e fartas fauna e flora... Os anjos ao redor do Supremo cochichavam pasmos. Gabriel, o Arcanjo, não se conteve:
- Senhor, por que tantas benesses para este país?
Deus alisando suas longas barbas brancas, num sorriso de criança prestes a cometer uma travessura respondeu:
- Gabriel se soubesse as criaturas com que irei povoar este país...
Pois é, e cá estamos nós (criaturas de Deus) em meio a esta bonança natural, divina, e, pra variar, servindo a deus e ao diabo, vandalizando... Por mais estranho que pareça tudo contribui para que tenhamos este tipo de atitude. Vejamos 2010, por exemplo. Só tem seis meses de vida útil... É isso mesmo, seis meses. Copa do Mundo, campanha eleitoral, eleições, Natal, tudo cheira a folia, diversão, circo. Pobreza, miséria, desemprego, corrupção (mas menino, ninguém é de ferro), vira samba-enredo, marchinhas de carnaval, alimentam shows de humor nas barracas de praia deste país verde-amarelado metade banhado por águas salgadas.
O paraíso é aqui, claro (com seus inferninhos periféricos), está na planta original elaborada pelo arquiteto do universo. Brasiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiil...

LENDO A NATUREZA

Encostado no vão da porta da cozinha da tapera de taipa já caindo aos pedaços, mão em jeito de ciscador correndo por entre os cabelos da fronte à nuca num vai-vem afobado. O crepuscular que se abate sobre seu roçado está avermelhado de tanajuras. Olhar parado. Raivoso, sonhador, feliz é o desenho surreal se estampando em seu semblante de sertanejo, cabra da peste, do meu agreste Ceará. Rumina.
“Cuma darei de conta de tanto furmiguêro... Ah, qui coisa linda será vê as nêga bunduda im sêos vistido colorido de chita a dibuiá mí, fêjão... Tumá bãin pelado sortano cangapé nas vazante do açude impapado dágua...”

SAPO-BOI

Oh Yara mãe das águas
De cabelos ondulados
Alagada de bondades
Quero ser sapo cantante
Para estar todas as tardes
Com olhos aboticados
Nas mulheres rindo à toa
Nuas, correndo e pulando
Na beirada da lagoa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário